Uma olhada rápida no mapa de localização das bandas de congo do Espírito Santo já permite perceber que, de modo geral, os grupos estão situados nas regiões mais periféricas dos municípios. A equipe da pesquisa com vistas à inscrição deste bem cultural como Patrimônio Imaterial Nacional, ao percorrer a área, pode constatar esta impressão.
Depois de visitar as bandas São Domingos do Norte, Governador Lindenberg e Linhares, as localidades mais ao norte no mapa, os pesquisadores foram visitar as de Guarapari, no extremo sul da região do congo. O levantamento preliminar do IPHAN, realizado entre 2014 e 2015, havia identificado cinco bandas neste município, das quais somente duas estavam atuantes: a Banda de Congo Alto Rio Calçado, e a Banda de Congo São Benedito de Rio Claro.
Alto Rio Calçado
A equipe da pesquisa já havia agendado uma visita à região em março deste ano, mas as fortes chuvas que caíram na ocasião impediram o acesso. Alto Rio Calçado fica a quase mil metros de altitude e a uma distância de 23km de Guarapari.
Finalmente, a equipe pôde retornar no dia 14 de setembro, quando foi recebida no sítio do Sr. José Miller, onde encontramos também o Sr. Oézio Rosa de Oliveira – Mestre Pelé – e o Capitão Sebastião Francisco, que tinham tanta coisa para contar que mal deu tempo de arrumar o equipamento de gravação. Dentre as histórias do grupo, as narrativas dos milagres atribuídos à devoção.
A banda de Alto Rio Calçado realiza sua Fincada do Mastro sempre no primeiro domingo de janeiro, com uma tradição única: a Lavagem do Mastro, em que os devotos pagam suas promessas e agradecem as graças alcançadas derramando vinho sobre o mastro, antes da fincada.
Quilombo Mocambo, Rio Claro
No dia 15/09, acompanhamos o Sr. Reginaldo Loureiro Régis, que está articulando a oficialização de quilombos no ES, e o Mestre Artesão Domingos Teixeira em uma visita a Mestre Duca, da Banda de Rio Claro. A equipe de pesquisa estava com grande dificuldade para encontrar os responsáveis por esta banda, mas após este contato será marcada uma entrevista, para apresentação do projeto de pesquisa e, principalmente, ouvir os relatos da banda sobre sua história. Ficamos sabendo que o Mestre deseja que, a partir de agora, o grupo seja conhecido como Banda de Congo do Mocambo. A visita, no entanto, não se limitou ao estabelecimento do contato: fizemos uma roda de congo, que é a melhor maneira das pessoas se conhecerem. Participaram também a prof. Raquel de Freitas, e o conguista Alfredo, que fabrica as casacas da banda, e Domingos Maciel, ex-vereador em Guarapari.
Antes de ir visitar Mestre Duca, no entanto, a equipe passou pela região de Jacarandá, onde Reginaldo Loureiro também está articulando a oficialização quilombola, e fomos tão bem recebidos na residência do Sr. Jorge que, além de almoçarmos uma refeição deliciosa, toda preparada com produtos da terra, cantamos Parabéns pra você para sua neta Gabrielle, que havia completado 7 anos na terça-feira anterior.
Sr. Jorge contou que havia uma banda de congo, e uma folia de reis, na região de Jacarandá. Infelizmente, com a morte dos mais velhos, essas tradições foram interrompidas.
O Projeto de Pesquisa Identificação e Registro do Congo do Espírito Santo como Patrimônio Cultural Imaterial Nacional (Patrimonialização do Congo do ES) foi criado através de uma parceria, via Termo de Execução Descentralizada, entre o IPHAN-ES e a Universidade Federal do Espírito Santo, com o apoio da FUCAM. Dá continuidade aos projetos “Saberes do Congo, saberes da Universidade”, da Prof.ª Elisa Ramalho Ortigão, e “O Congueiro”, do Prof. José Otavio Name, do Centro de Artes. Participam do projeto os bolsistas de pesquisa João Victor dos Santos, Daniel Zürcher, e Matheus Giacomin Sian.
Publicado por ocongueiro
Congo do Espírito Santo
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